terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Prostituta e As outras... De plantão.

Para Aurélio Buarque de Holanda, a prostituição é o “ato ou efeito de prostituir-se e/ou o comércio habitual ou profissional do amor sexual”, prostituta é uma “meretriz” e esta é aquela “(...) que pratica o ato sexual por dinheiro”, “mulher pública”. Já para Otávio de Freitas Júnior, prostituição é uma “atividade profissional cujo trabalho consiste em fornecer prazer sexual, pago, e realizado de modo sistemático”.
Creio que todos nós já ouvimos falar que a prostituição é a profissão mais antiga da humanidade, mas, como se percebe na atualidade, é algo que chama a atenção e que pode ser observado principalmente em vias publicas e nos grandes centros urbano.
Há até quem diga que as prostitutas são mulheres de vida fácil, opinião dada pela falta de conhecimento do que seja tal realidade. Essas mulheres mergulham nesse mundo de maneira inconsciente pensando ser algo passageiro para resolver certo problema e que depois tudo ficará bem, pois a vida voltará ao normal. Mas se enganam e, às vezes, é um caminho sem volta.
Pobres mulheres... Cada uma com histórias e dramas diferentes, mas necessidades parecidas. Sonhos e decepções se cruzam; derramam lágrimas, sorrisos e desesperos. Usam como enfeite um colorido chamativo e se embebedam com um cheiro que impregna as calçadas. A indumentária parece chocalho para que sejam vistas!
Pobres mulheres... Que são usadas, machucadas e abandonadas por olhares punitivos e que carregam feridas doídas na alma sem um toque de felicidade, sem escolha do seu preferido! Para onde a vontade por moedas conduz e embala o seu corpo em viagens mais tristes e o seu prazer se perde no meio do caminho sem atingir o mais sublime do sexo, que é a plenitude do orgasmo.
E, em troca dessa viagem maldita, ela leva consigo a moeda e a dor, como se fossem prêmios que não ganhou. No seu intimo está alojado um fantasma chamado insucesso que vai consumindo a sua vida, fazendo com que se evapore, e a juventude que a cada dia se despede do espelho num olhar cada vez mais sem brilho.
Pobres mulheres... Indefesas, que com o seu sofrimento buscam a própria segurança e a de seus filhos que, famintos, esperam migalhas como passarinhos sem bico e sem ninhos que os protejam!
Em um trabalho social desenvolvido por um órgão publico de Salvador – BA, cujo público alvo era a prostituta, uma delas com olhar cabisbaixo afirmou que quando está na via publica, a trabalho, às vezes algumas pessoas que passam nos coletivos fazem uso de xingamentos variados para lhe ferir. Nesse momento, ela respirou profundamente como se buscando ar e, com uma lagrima solitária a lhe escorrer pelo rosto, disse: “eles não imaginam que quando retorno para casa, antes de dormir, tenho um grande acerto de contas comigo mesma, nem a quantidade de lágrimas que deixo no meu travesseiro”.
E, aí, aparece a figura de e as outras, mesmo sem remuneração extra, sem precisão financeira, concorrendo com as pobres mulheres, contrastando com a prostituta, quebrando o paradigma de que “quem é bom já nasce feito”, sorriso despontando felicidade, saudável, dona da verdade. A sua afirmação de ordem é “eu sou direita”, como se esquerda só combinasse com posição política.
E, e as outras que se escondem na própria sombra, mas não querem essa dita profissão “prostituição”? Que profissão tem? E, e as outras não querem, não aceitam ou não se enquadram? Que coisa é essa? Será que o Aurélio se esqueceu de batizar com um vocábulo que atendesse a e às outras?
E, e as outras, que já tem segurança e não a querem perder, e tem passarinhos com bico e papo cheio, que possuem ninho confortável e tem até titulo da igreja para atender à vaidade de uma sociedade. Será que e as outras estão tirando o “ganha-pão” das prostitutas?
Se o Aurélio ainda não tem o vocábulo adequado para e as outras, vamos pelo menos tentar descrever alguns comportamentos: enquanto a prostituta faz questão de aparecer a e as outras se escondem. Mas, Já viram macaco escondido com o rabo do lado de fora? Enganam e se enganam; criam vários artifícios; buscam a tecnologia como interceptor de sexo, o psicólogo, o grupo de estudos, as consultas médicas, os shoppings, as viagens relâmpago, as academias e as sessões de “pilates”. Distorcem criatividade com armação; geralmente se sentem as coitadinhas, as estressadas, na ilusão de serem as poderosas. Para e as outras, essa invasão de profissão deve ser como “vou dar o pulo do gato”. Acontece que o gato tem sete vidas e, sendo assim, tem prazo de validade, o que significa que um dia ele morre e confere a e às outras diferentes “títulos”, só que fica por conta do dicionário popular.
Será que estou rotulando ou sendo preconceituoso com e as outras? Ou e as outras é que deveriam ser mais reais?
Graças a Deus, nem todas as mulheres são iguais as e às outras. Já pensou se fossem? Terminariam suas vidas com o pulo do gato... E observem que ele, o pulo, arranha, machuca, deixa sequelas e tudo termina sem o gato ou com o gato pelado!!

Por Celso Lacerda
Brasília, 21 de janeiro de 2010