quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A LINGUAGEM NÃO TEM DONO!

Nas diversas linguagens estão incluídos vários pontos a serem observados tais como: a linguagem oral, corporal, musical, visual, artística, escrita e outras. Vygotsky já dizia que “ a função primordial da linguagem é a comunicação, intercâmbio social ”.
O que se percebe é que algumas pessoas se prendem a pouquíssimas coisas que sabem ou que decorou ao longo da sua vida e levantam essa bandeira de conhecedor da gramática, batem no peito e dizem: “ eu sei Português”. O sábio escritor holandês, Erasmo de Roterdã, já dizia: "Os grandes escritores nunca foram feitos para suportar a lei dos gramáticos, mas sim para impor a sua." Muitas vezes algumas pessoas, tidas como pessoas que falam e escrevem bem, usam desse artifício não para ensinar e, sim, para aparecer, desmerecer, por vaidade diante do outro (a). Muitos até sabem alguma coisa e se alimentam e vomitam palavras, frases, expressões porque têm uma coleira que é puxada a toda hora, mas não têm a felicidade de contracenar, com sentimentos, emoções e com a beleza da alma. O importante é se comunicar de maneira que o outro entenda. Tive a felicidade de ser aluno de uma escola pública e ter como mestre o grandioso professor e escritor Fraga Lima, meu grande professor de português. Lembro-me que nas suas aulas ele dizia para nós, alunos, que o que deveria ser essencial no português é a comunicação; a maneira em que a gente escreve ou fala só tem valor se o outro entender a mensagem.
Convivi em vários lugares, conheci pessoas humildes fantásticas que tinham o coração do tamanho do mundo, todavia, não tiveram a oportunidade de sentar no banco da escola; sentaram-se no banco da vida. Quantas saudades! Comunicaram-se comigo e eu as entendia. Pediram que rezasse a santo Antonho, que eu tivesse muita fé em Jesuse , me deram imbu e melencia e eu me deliciei, “comcerteza”. O Aurélio entendeu o jeito de falar imbu e aceitou. Mandaram que eu subisse pra cima e descesse pra baixo, entrasse pra dentro e saísse pra fora, tudo isso eu fiz. Deram-me um chá de capinho santo, curei a minha dor de barriga. Também preguntaram e mandaram lembrança pra mim, me convidaram para um nata e que eu fosse ver o prisépio bunitim, cheio de bichim com jesuse meninin e eu fui e me senti muito feliz. Que quando eu fosse à venda trucesse uma caixa de fosco para acender o fugão e ainda dizia o calvão tá moiado; comprei um mundo de troço pra mim comer; o trem ta atrapaiado; oia que brusa lindra toda avermeiada que comprei pra mim para dar certo com minha saia amalela; a chuva tá chuvendo de mazi; pegue a bassoura que quero barrer; a ceuveja tá gilada; a minha pranta tem fro; Deusi abençoe meu fio. E os conselhos: coidado com a murdida da abeia; vá brincar na porta da casa se você sair te dou uma mão de vaca na cara; “voçê" é muinta tranqila: prenda a sua cabra, poisque o meu bode tá sorto; Antonia e Warter juntaram seus cacarecos; muié tenha fé em são Rafae; coidado que o cardume de aves tá comendo o mio na roça; resolva o seu probrema, sei que tá dificio; coidado com a língua de Armerinda; a fia de vardelice é marvada; o mió sarapaté é de poico; menino, não cuma muntio pra você não se empanzinar; não passe naquela casa veia que tem livuzia; não beba café quente e saia porta fora, se o vento lhe pegar você entoita a boca e muitos outros.
Lembro-me de um senhor chamado Abílio, gente muito boa, cheio de brincadeira, pela manhã, bem cedinho, sempre aparecia na casa de minha mãe quando ela estava fazendo o café no seu fogão de lenha e minha mãe dizia: Abílio, pegue a cadeira e sente e ele de imediato ficava de cócoras e dizia: dona Terezinha, to aqui sentado no meu banco natura e ali ele acendia um cigarro feito de palha seca de milho e fumo de corda e se comunicava, pitando o seu cigarro e falava de tudo e minha mãe ficava horas sabendo das notícias dando-lhes atenção. Saudades. O escritor Francês, Anatole France, diz que: "O povo faz bem as línguas. Fá-las imaginosas e claras, vivas e expressivas. Se fossem os sábios a fazê-las, elas seriam baças e pesadas." Isso me faz lembrar Marcos Bagno, quando afirma que: ”A língua é como um grande guarda-roupa, onde é possível encontrar todo o tipo de vestimenta. Ninguém vai só de maiô fazer compras num shopping-center, nem vai entrar na praia, num dia de sol quente, usando terno de lã, chapéu de feltro e luvas. (...) Quando falamos ou escrevemos, tendemos a nos adequar à situação de uso da língua em que nos encontramos: se é uma situação formal, tentaremos usar uma linguagem formal; se é uma situação descontraída, uma linguagem descontraída e assim por diante”.
Hoje, infelizmente, as pessoas vivem no mundo se prendendo as coisas prontas, normas pré-estabelecidas, regras ditatoriais, procedimentos preconceituosos, fórmulas para seguir uma única direção, receitas sem erro, o baixar da cabeça para os ditos poderosos do saber. E Isso tudo para atender a quem? Para a subserviência perante você mesmo? E você fica como? Não sendo você e sendo outra pessoa?
Repense e reflita sobre a sua vida que é o bem maior que você tem. Ouça o que a sua alma tem a lhes dizer e deixe-a sobressair-se sobre o seu corpo, pois o que é mais belo e essencial na vida é ser feliz.
Se o jeito de falar e de escrever de uma pessoa enfim, a linguagem dela não é o que você quer ouvir e ver, deixo-lhe um conselho: passe um apagador na sua própria crítica sem compaixão, em você mesmo, e deixe que ele se comunique, na sua sinceridade, com alguém que os aceitam . Respeite a alma do outro, porque a língua é propriedade de quem fala.


Autor: Celso Almeida de Lacerda