quarta-feira, 11 de março de 2015

Viajar de avião: para sorrir ou pra chorar?

Há pessoas que de jeito nenhum viajam de avião, têm medo! Outras acham dispendiosas as passagens e também têm aquelas que quando sabem que uma pessoa vai viajar de avião de imediato diz: “ que chiiiique”, isso com bastante entonação. Percebe-se que nas viagens de avião uma das alegrias de algumas pessoas está em verbalizar para o outro que vai de avião. Não sei qual a intenção! No dia da viagem, o que se percebe é que desde a estada no saguão do aeroporto as pessoas permanecem caladas, pensativas, não há aquela interação entre elas, o sorriso se recolhe. Diferentemente das viagens de ônibus na rodoviária que desde a saída do ônibus e o transcorrer do deslocamento há pessoas conversando algo, solícitas com o outro, sorrindo, trocando ideias a ponto de iniciar uma amizade. Se for degustar algum alimento chega até a oferecer ao outro.
Na viagem de avião chega até ser engraçado no momento da compra da passagem quando a vendedora pergunta: tem preferência pela janela ou pelo corredor? Existe alguma salvação em relação a isso caso venha acontecer algo? É melhor ir dentro da caixa preta, não? Alguém pode até encontrar o outro, mas daquele jeito.
É chegada o dia da viagem… Faz o Check-in e segue para a aeronave. Todos aparentando tranquilidade, cabeças baixas, solitários, ninguém olha para os lados… Entra na aeronave, e logo é recebido pela aeromoça saudando a todos com a mesma mensagem, mensagem máquina! Parece que elas fazem parte de alguma seita religiosa, pois as vestimentas são idênticas, mesmo penteado, mesma fala e não deixam de ter aquele lenço amarrado no pescoço. Em seguida a pessoa procura o seu assento e senta naquela poltrona que parece mais uma sepultura, do jeito que senta, fica até o fim do percurso. A preocupação de imediato ao sentar-se é garantir o braço da poltrona. Se não viajará o tempo todo abraçando a si mesmo.
Depois de todos sentados, as aeromoças começam a transitar no corredor do avião, uma andando de frente e a outra de ré, observando tudo. Aí uma delas antes da decolagem se posiciona e apresenta as instruções de como proceder na viagem. Como não ter medo de viajar de avião, se toda as informações dadas, não deixam de ser um preparo para o pior? Será que não é preferível nem dar a atenção ao que ela fala e começar a rezar? Imagine quando ela diz que se o avião cair na água, o assento é flutuante. Pegue o colete salva-vidas embaixo da poltrona e comece a soprar para enchê-lo quando estiver fora da aeronave. A pergunta que não quer calar: quem consegue engolir água e soprar? É melhor rezar para que a aeronave não caia em lugar nenhum.
E lá em cima nos ares, dentro do avião, o silêncio toma conta de todos, os olhos podem até olhar para o outro, mas não dizem nada. A indiferença impera! E nesse silêncio das pessoas, parece que elas ficam ouvindo atentamente a zoada sincronizada dos motores advinda do avião e que deve ser a mesma até o final do percurso, para que todos fiquem em paz. Praticamente o silêncio mudo estabelecido nesse espaço é quebrado quando as aeromoças chegam empurrando o carrinho. È hora do serviço a bordo! É o lanche! O carrinho parece mais aquele carro que recolhe lençóis usados dos enfermos nos hospitais! Na parte superior desse carrinho estão os refrigerantes, sucos de caixinha e as águas abertas, sem tampas, sem gás e o bendito amendoim. Aí começa a distribuição de um copo com refrigerante ou água e um saquinho de 30g de amendoim para cada pessoa. Isso é que é alimento! Há quem diz: “ Só isso! Quanto mais fico estressado, mais quero comer”. E a viagem segue…
E na chegado do destino, mais uma preparação, ou seja, quase as mesmas ladainhas dadas anteriormente. O piloto avisa: “ Tripulação preparar para o pouso”! A aeronave aumenta o seu barulho e como algo que vai desabar, bate as rodas fortemente ao chão, não sei como elas aguentam tanta pancada. Também nessa hora a impressão que passa é que o piloto quer frear a aeronave de qualquer jeito e a todo custo. Uma mulher, passando por todo esse processo na aterrissagem, que não deixa de ser uma ação brusca, enrosca o terço nas mãos, apreensiva e com bastante fé diz: Meu Deus, meu Deus, segura isso pelo rabo! A alegria chega mesmo dessa viagem quando se pega as malas na esteira.
Na viagem de avião tem também histórias hilárias. Se contar para algumas pessoas nem acreditam, mas acontecem. Já pensou viajar de avião em que um cachorro late o tempo todo e cria uma discussão em que um executivo sai do sério e diz: só falta a farofa aqui. Ao ouvir isso um baiano, com seu jeito de vidão, diz: falar de farofa, mexeu comigo. Imagine também uma mulher catando piolho no filho e jogando para cima o dito cujo. Antigamente matava ele na unha. E um cara com uns quilinhos a mais chegando a ultrapassar a poltrona do outro de maneira que o cotovelo dele ficou roçando no umbigo da pessoa. E a coisa ficou feia mesmo quando serviu o amendoim e ele começou a comer. Cada levada de um amendoim na boca e o retorno do braço para pegar mais, era uma pancada na barriga do outro. E uma mulher que se revoltou com o vizinho de poltrona, porque ele não acordou ela na hora que a aeromoça estava servindo o “ lanche” e ela perdeu. E aquele que queria abrir o saquinho do amendoim, tenta com a dentadura, não consegue e ai vai com os dedos e consegue, mas dá um safanão no estômago do outro e o amendoim cai por todos os lados. E as pessoas que mesmo sabendo que tem que desligar o Celular e continuam mandando mensagem na hora da decolagem. E por aí vai! E por ai voa!
Celso Lacerda