Tudo em seu lugar.
Reclamava quando as coisas não combinavam.
Tinha um olhar critico quando as coisas destoavam.
Os horários eram como se fosse um ritual
Tinha hora de acordar, trabalhar, dormir, almoçar...
Parece que o relógio não estava na parede, ou no punho
Estava na minha subserviência
As coisas eram assim:
Açúcar no açucareiro
Farinha na farinheira
Salada na saladeira
E o café no quente frio
A roupa no guarda roupa
O sabonete na saboneteira
Era um quebra cabeça
Cada qual no seu cada qual
Tudo certinho
Descobrir que coisas simples dá prazer
E que nem tudo que combina é o ideal.
Não é errado de quem faz
Mas com isso fica tão submisso
Perde tempo...
E deixa de descobrir a essência do que é viver.
E a vida e a felicidade estão aonde?
Estão nas coisas simples.
O meu sapato tinha lugar certo de ficar
Hoje fica em qualquer lugar
Na sala, no quarto ...
A minha calça fica sentada na cadeira
Aguardando-me quando for usar.
Aquela vasilha de margarina
Que jogava no saco do lixo
Hoje enfeita minha prateleira cheia de arroz, de café, de sal...
O pregador de roupa
Que só pregava roupa
Hoje tem mais uma função
Lacra o saco de açúcar, de farinha, de feijão...
O café era servido na xícara, porque no copo não?
O livro ficava sempre na estante
Hoje ele percorre a casa e depois das minhas leituras
Vira até travesseiro
Deixando-o bem pertinho da minha cabeça
De onde ele deveria entrar e fazer morada.
A Busca por coisas de marcas...
E onde está a minha marca?
O meu eu integral?
O sabão em pó tinha nome
Era Omo hoje qualquer uma...
A esponja para lava louça tinha nome
Era Bombril hoje qualquer uma...
E outras.... Qualquer uma...
E hoje com esse meu qualquer uma...
E com esse meu olhar de enxergar
É que sinto que nas coisas simples
É que eu me encontro,
Que eu me cuido,
Vejo a beleza da vida
E gosto mais de mim.
Celso Lacerda
Barreiras – Ba – 19-04-2009