segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mudei

Venho de uma casa. Tudo quase certo.
Tudo em seu lugar.
Reclamava quando as coisas não combinavam.
Tinha um olhar critico quando as coisas destoavam.
Os horários eram como se fosse um ritual
Tinha hora de acordar, trabalhar, dormir, almoçar...
Parece que o relógio não estava na parede, ou no punho
Estava na minha subserviência
As coisas eram assim:
Açúcar no açucareiro
Farinha na farinheira
Salada na saladeira
E o café no quente frio
A roupa no guarda roupa
O sabonete na saboneteira
Era um quebra cabeça
Cada qual no seu cada qual
Tudo certinho
Descobrir que coisas simples dá prazer
E que nem tudo que combina é o ideal.
Não é errado de quem faz
Mas com isso fica tão submisso
Perde tempo...
E deixa de descobrir a essência do que é viver.
E a vida e a felicidade estão aonde?
Estão nas coisas simples.
O meu sapato tinha lugar certo de ficar
Hoje fica em qualquer lugar
Na sala, no quarto ...
A minha calça fica sentada na cadeira
Aguardando-me quando for usar.
Aquela vasilha de margarina
Que jogava no saco do lixo
Hoje enfeita minha prateleira cheia de arroz, de café, de sal...
O pregador de roupa
Que só pregava roupa
Hoje tem mais uma função
Lacra o saco de açúcar, de farinha, de feijão...
O café era servido na xícara, porque no copo não?
O livro ficava sempre na estante
Hoje ele percorre a casa e depois das minhas leituras
Vira até travesseiro
Deixando-o bem pertinho da minha cabeça
De onde ele deveria entrar e fazer morada.
A Busca por coisas de marcas...
E onde está a minha marca?
O meu eu integral?
O sabão em pó tinha nome
Era Omo hoje qualquer uma...
A esponja para lava louça tinha nome
Era Bombril hoje qualquer uma...
E outras.... Qualquer uma...
E hoje com esse meu qualquer uma...
E com esse meu olhar de enxergar
É que sinto que nas coisas simples
É que eu me encontro,
Que eu me cuido,
Vejo a beleza da vida
E gosto mais de mim.

Celso Lacerda
Barreiras – Ba – 19-04-2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Decidida para amar

Você chegou como quem não queria nada...
Querendo tudo.
O seu olhar apunhalou minha alma
E na distância em que separava o nosso desejo
Senti o sabor da sua boca
Que como ondas sonoras
Saltava em direção a minha.
A sua fome estava no seu olhar
Que milimetricamente me engolia
Arrepiado por dentro
Faiscava centelhas de desejos
Suspirei e lentamente como um fiapo ao vento
Colei no seu corpo
Acariciei e adentrei no seu íntimo
E como galhos retorcidos embalamo-nos.
Sussurros e gemidos molhados deslizavam
Era uma orquestra de prazer
E cada vez mais liberava um pouco dos nossos nós
E nesse vai e vem e vem e vai
Desprendiam águas salgadas e doces
Que adoçavam o nosso atrito
E como um furacão os nossos gemidos e sussurros
Foram se acalentando, nós éramos um
E um sorriso tão leve, sela.

Celso Lacerda
Salvador – Ba – 13.04.2009

Quando você pensava que era EU...

Virou meu calendário,
Meu relógio,
Minhas noites, minhas manhãs, meus dias,
Meu inverno, meu verão,
Meu tempo, meu espaço
Meu suspiro, minha visão
Minha muleta, minha direção.
Queria Invadir os meus sonhos,
Minha vida, meus segredos.
Mentia pra si. Enganava-se.
Nutria-se com o conveniente
E embebedava com o próprio veneno
Escondia-se dentro da própria sombra
Mascarava e se perdia
Roubava a minha paz.
Não queria ser a minha cara metade
Queria ser a minha cara inteira
Que ilusão...
E quando quis se encontrar...
Tudo era estranho
O vazio materializou-se
E a solidão adentrou no seu intimo.
De tanto você pensar que era EU
Esqueceu de você e se perdeu...
Perdeu a identidade.
Mas, como nada fica igual ...
Comecei a andar na contramão
Desprender-me.
Não tenho dono.
Meus olhos saltaram na imensidão...
Minha vida ainda me deu a oportunidade de olhar pra trás e ver um mundo pequeno que não me pertencia mais...
Sou único e verdadeiro
Com vontades, sonhos e desejos.

Celso Lacerda
Brasília – DF 25.02.2009