domingo, 25 de maio de 2008

Madrinha luz

A vida perde o encanto
E nas lembranças firmes e duradouras
Faço renascer a sua imagem
Bondosa e protetora.
Recordo-me do seu imenso afeto,
Das suas exageradas preocupações,
Do seu estilo materno,
Das suas demasiadas ponderações.
A falta do seu abraço filial,
Do beijo e da enorme afeição.
Deixa um vazio sem limite,
Que saudade... De pedir a sua benção.
Lembro-me, também das suas orações,
Que nas continuas manhas fazia
Com os seus joelhos plantados no chão,
Rezava por todos pedindo proteção.
Com os olhos tremos fechados
Orava que as lagrimas desciam com prazer
A entrega ao mestre Jesus
Era grandiosa sem se conter.
A sua vida na terra
Era brilho, fé e luz.
Procurava ajudar a todos
E tinha um eterno amor a Jesus.
Mas, o açúcar que adoça a vida,
Para mim um dia amargou,
Arrebatando a mãe madrinha
Para brilhar com o nosso senhor...

Por Celso Lacerda
17.06.1996

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Palha de Aço

Você diz que eu sou palhaço
Eu não sou palhaço não,
Eu sou palha de aço
Que arranha o coração.

A platéia da risada
Com as coisas que eu faço
Dá risada do meu ser
E tenta roubar meu espaço
Eu queria só saber
Quem é o verdadeiro palhaço.

O picadeiro é o mundo
Onde há embaraço e laço
Zomba do meu sentimento
Eu sou brilho, amor e abraço.
Eu queria só saber
Quem é o verdadeiro palhaço.

Bota cores no meu rosto
Me desenha e cria traços
Quer me dividir e rotular
Eu sou inteiro não sou pedaço
Eu queria só saber...
Quem é o verdadeiro palhaço.
Eu queria só saber
Quem é o verdadeiro Palhaço...

Por Celso Lacerda18.09.199

Companheira morte

Quando você chegar
Não quero estar doente
Quero está sorrindo
E muito consciente.

Quero estar satisfeito
Com os olhos brilhando de felicidade
O corpo completo
Para viajar no avião da eternidade.

Com cabelos e barbas brancas,
Ou quem sabe ate grisalhos,
Como sangue correndo nas veias
E os pés plantados no assoalho

Se der tempo para cantar
Escolherei a melhor canção
Alegre e harmônica
Cantarei suave com o coração

Você é a certeza que tenho
É o que não posso separar
É a realidade transparente
Construída para amar

Quando você começara me envolver
Não me apunhale
Estou pronto
Companheira, bem querer.

Só pediria a você um minuto
Para lhe contemplar
Abraçar meus filhos...
E em você companheira mergulhar...


Por Celso Lacerda
02.06.1996

o que é belo!

A vida é bela,
A natureza é bela,
O a mor é belo,
O sonho é belo,
Mais belo é aceitar o amor que acabou.

A criança é bela,
A mensagem é bela,
O prazer é belo,
Mais belo é acreditar que existimos.

O mar é belo,
A fé é bela,
A confiança é bela,
Mais belo é sorrir para um novo amor.

O olhar é belo,
O aperto de mãos é belo,
O coração pulsando é belo,
Mais belo é acariciar e receber carícias.

O respeito é belo,
A atenção é bela,
O abraço com os braços é belo.
Mais belo é esquecer aquele amor que não deu certo.

Tudo é belo...
E mais belo é enxergar...
E viver...
A beleza que existe dentro de cada um de nós.

Por Celso Lacerda
28.01.1994

Vidas distantes

O mesmo teto,
A mesma cama,
Os mesmos silêncios
O mesmo drama.
A indiferença envolve,
Os defeitos afloram
A presença é assombração
O sexo evapora.
A competição fortalece
O tesão é tensão
Os horários se perdem
O corpo não tem coração.
É conveniente?
Só porque existe algo positivo?
Você não é metade. É inteira.
Suporta?
Só porque alguém exige?
Você não tem dono. É livre
Aceita a situação?
Só porque você permite?
Você não é estática. É vida.
Pense, grite...
Não deixe que a conveniência
Queime o teu corpo. Reaja.
Os dias passam...
Você se fere,
Você se anula...
Lembre-se que muitos
Levaram essa queimadura
Até a sepultura.

Por Celso Lacerda
06.06.1996

Adeus condicionamento

Corrir sem pensar
Tive preconceito
Fui individual.
Rotulei as pessoas
Mentir para salvar a pele
Vesti-me para os outros
Mudei o meu linguajar.
Tornei-me ingrato
Contei dinheiro
Paguei a toda hora
Entrei em filas
Intoxiquei-me com os produtos
Aceitei propagandas
Estressei-me.
Vivi para os outros
Liberei meus ouvidos
Sufoquei meu pensar.
Cobraram-me qualidade
Lambuzei o meu rosto
Fantasiei-me.
Chega... Quero viver
Arrancar a mascara
Sorrir, sonhar...
Amar
Ser verdadeiro...
Envolver-me com a natureza...
E me encontrar...

Por Celso Lacerda
24.10.1995

Doar é amar

Na sua mais bela bondade, a natureza nos presenteou o céu, o ar, o sol, a chuva, as plantas e tantas outras maravilhas. E para nos, moradores desse universo, também nos foi ofertado, pela natureza, nada mais do que cultivar e propagar: a paz, a compreensão, a ajuda, a saúde, o amor e a compaixão, porque acredita na beleza do ser humano.
Todos nós estamos neste universo vulneráveis a qualquer desconforto. Quem de nós não conhece alguém que precisa de ajuda? Que precisa de um sorriso, de um alimento, de um remédio e de uma moradia.
As pessoas que necessitam de ajuda não são diferentes das outras, são pessoas que precisam de apoio. Apoio esse que completa a igualdade.
A indiferença é cruel. Na maioria das vezes a fortuna não representa a paz que desejamos. No momento em que você achar que o outro está te incomodando e te ocupando reflita! A solidão não combina com a paz.
Quem de nós não necessita de atenção, carinho, ajuda e amor. Enxergar o outro só quando está a sua frente é você não fazer parte desse universo.
Procure observar que alguns dos nossos irmãos têm sinais de deformidades na massa que envolve o seu corpo, mas também tem um espírito que irradia e que faz mover o seu ser. Ser este, que traduz em um sorriso livre, um olhar sereno e um afagar suave.
Devemos é lançar a semente do amor em multiplicidade. Semente essa, que floreça e embale a esperança no seu maior sonho de viver dos nossos irmãos.
Não silencie diante de uma ajuda. Repartir, dividir serão as nossas palavras de ordem. Procure a partir de agora buscar as necessidades do seu irmão. Seja lá onde ele esteja em qualquer lugar do mundo. Dizer que não pode ajudar é não conhecer a si mesmo.

Por Celso Lacerda
25. 03. 1999

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pra viver ainda há tempo

A adolescência passou por mim como um raio.
Eu era um ser adormecido diante de tanta beleza.
Com os olhos fixados na responsabilidade adulta
Vivia no amadurecimento precoce.
Esquecendo o vigor da juventude
Ate os elogios que me dispensavam eram passageiros
E sem importância.
Houve sinalização do que é viver,
Mas o meu pensamento estava preso no AMANHÃ.
As festas, os passeios e as diversões,
Representam um monstro que queria aniquilar-me
E o medo do amanha, era um fantasma,
Companheiro inseparável.
Sob a pele lisa do rosto como maçã
Carregava o franzir da velhice.
O AQUI AGORA foi anestesiado.
Não tive tempo de sentir e observar na maior profundidade
O canto, a brisa, a lua, o sol e os diversos sussurros que a vida nos oferta.
E hoje com meus 45anos
Vejo no rosto traços estampados
Pertinho do meu nariz, da minha testa, da minha boca,
Dos meus olhos azuis e da minha barba.
Estes que encantavam,
Onde a beleza se afinava e chamava atenção.
E eu nem percebia.
Parecia uma orquestra sincronizada
Onde a beleza se afinava e chamava atenção.
E eu nem percebia.
Hoje com meu cérebro de jovem
Reflito e concluo
Que o AMANHÃ
Fica muitíssimo distante
Do nosso propósito.
Quero viver
Quero somar 4 + 5 = 9 anos.
Pra poder sorrir sem medo,
Brincar satisfeito,
Falar o que quiser sem magoa. Ser natureza.
Amar, amar e amar....
E ao invés de dizer quando eu crescer...
Dizer: estou indo com a FELICIDADE.

Por Celso Lacerda
10.02.1999

domingo, 18 de maio de 2008

Deixe-me nascer

Aos poucos fui me formando:
Alimentava-me do seu ser,
Beijava intensamente,
Bailava no pulsar do seu coração,
Mergulhava no seu liquido,
Compartilhava com o seu pensar.
Cada dia me sentia mais perto de você .
Com a sua alegria, eu vibrava.
Com o seu choro eu chorava.
No seu sono profundo
Eu mexia com você,
E lhe dizia: ¨eu existo¨.
E você deslizava as suas mãos pela barriga,
Alisava a minha cabeça,
Fazia cócegas nos meus pés
E eu sempre mostrando pra você que eu existia.
Mas você em vários momentos deprimia-se ,
Arrependia-se,
E eu lá dentro, indefeso,
Continuava dizendo que existia,
E que estava sofrendo com você.
Mas você num momento frágil,
Deixou descer pela garganta
A cápsula separação,
Não deixando-me sorrir pra você...
E aos pouco fui me separando
Do corpo que nos unia.
Mesmo com os meus olhos fechados,
Eu pude contemplar
Aquela bolsa cobertor
Que não mais me protegia.
A minha maior vontade
Era de lhe conhecer externamente:
Olhar para você,
Sentir o calor dos seus braços,
Lambuzar-me no leite dos seus seios,
...até adormecer,
E quem sabe eu refletiria em você
E você seria o meu espelho...


Por Celso Lacerda
31/05/1996

terça-feira, 13 de maio de 2008

São João sem você

É São João, é festa, é frio, é cidade vazia. Vejo apartamentos arrumados como fogueiras, mas fogueiras mortas, sem brilho.
Os fogos rasgam o céu anunciando alegria e estouram por todos os lados e os estouros, mesmo sendo acionados por mãos infantis não conseguem acompanhar o bater do meu coração, que está cada vez mais lento e cada vez mais forte.
A distância hoje é minha companheira. Se eu vou, ela está comigo; se eu venho, ela também está. Parece uma reta, um pontilhar cego que sempre me distancia de quem amo.
As lágrimas que escorrem pelo meu rosto não são aquelas lágrimas prateadas que alegram esta festa e que deixam vários olhares atentos. São lágrimas de saudade, de falta do amor. Vejo fumaças, pessoas num vai e vem, músicas, até algumas caipiras perdidas na multidão.
Encontro-me numa solidão, vendo tudo isso como se estivesse a parte, não participando dessa festa que gosto muito e que é a minha cara. A tristeza tomou conta de mim que até o meu sorriso foi engolido.
O luar não apareceu, queira Deus que ele esteja se refazendo e que no seu sono eu apareça no seu sonho e juntos possamos sonhar.
E nesse momento, um balão surge como se fosse o único do mundo, solitário como eu, sem rumo, sem ritmo se perdendo na imensidão do céu. Mas se aquele balão veloz e distante fosse o meu amor, estaria até feliz, porque o estava vendo.
Queria também que ele estivesse a minha procura e que se perdesse em mim, mesmo cambaleando, entrasse na minha alma e lá o fizesse morada. E que o seu colorido embaçado enfeitasse a minha vida, que o clarão que o levava brilhasse no meu sonhar e que a sua quentura incendiasse o meu amor, não incendiando e consumindo o meu corpo, mas fazendo ele aquecer, pois estou morrendo de frio.
Mesmo com essa mistura de fogos, música, fogueira, fumaça, balão e pessoas me sinto só...
E com toda essa saudade, essa solidão, esse momento, ainda considero-me até feliz, porque eu tenho um grande amor, o meu amor é lindo e ele existe.

Por Celso Lacerda
24.06.2004







O Cristal

O cristal ia caindo numa viagem cega e lenta. Nessa viagem levava consigo o sentimento de perda, a desconexão e o corte da lâmina que separava o que era mais belo. O seu brilho em pisca-pisca acenava, agonizava e fazia malabarismos preguiçosos com medo da sua chegada ao chão.
Das suas extremidades faiscavam pequenos filetes de compaixão pedindo socorro e mesmo quase desfalecendo ainda sonhava com a sua existência. Com o seu grito em silêncio, o cristal transmitia, em linguagem muda, que ainda poderia enfeitar a felicidade. Ele, mesmo estando perto de se consumir ou repartir em miúdos, se transformava em amor e ressuscitava, imerso em uma esperança singular.
O cristal era tão delicado, tão fino, tão belo e terno que não merecia ter as suas moléculas partidas. Como poderia uma coisa tão sublime, tão inteira virar um quebra-cabeça e quem conseguiria juntar os seus cacos e os tornar como era antes, único e verdadeiro? Ele não era para estar simplesmente jogado num saco ou fazendo parte de coisas sem valor. Poderia também ganhar outros nomes, quem sabe, quebra-coração, quebra-vida ou vidas partidas.
E a caída cada vez mais se concretizava. O cristal lentamente ia voando num vazio, mas a vontade de permanecer alimentava a vida e era maior que a morte.
Já desesperado com o seu desfecho, em um determinado momento agonizou nas lembranças mil, do sorriso, dos beijos, dos carinhos, do estar um e, rapidamente a poucos milímetros do chão, flutuou nos braços do ar e bailou no sentimento das recordações e encheu o seu coração numa mistura de desejo e paixão, embalando-o em suspiros de Hércules, voltou e adentrou no peito.

Celso Lacerda
6/07/2004

domingo, 4 de maio de 2008

Reencontro com o mar

Registrar momentos felizes em nossa vida é sempre bom.
O meu reencontro com o mar depois de vários dias foi fascinante. Comecei a andar pela areia, que aconchegava os meus pés formando chinelos de cristais amarronzados.
A brisa bailando com o seu sabor de maré dava um toque especial, refrescando o meu rosto e envolvendo-me.
O mar, esse gigante azulado que confundia com o céu, avançava para a areia e formava um grande tapete úmido convidando-me a pisá-lo e quando o fiz desenhei as minhas pegadas traçando um caminho para outras pessoas também o seguisse. E de vez em quando o mar fazia menção carinhosa e rasteira para atingir os meus pés e em determinado momento, conseguiu e inundou-o me convidando para um mergulho de amor. Atendi ao seu chamado e o compartilhei. Começamos a lutar. Era uma luta de abraços, abraços e abraços, como se fosse cada um dizendo que gostava mais um do outro. E naquele cansaço fui carregado e embalado como uma criança nos seus braços. Fiquei muitas horas sentindo as sua carícias em ondas.
O nosso amor era tão transparente que via o meu corpo dentro do seu corpo. E naquele ninar comecei a dialogar com o mar e disse que eu não era mais aquele menino de 15 anos que ia ao seu encontro só para molhar o corpo e desfilar pela sua praia exibindo minha juventude. E hoje com a minha idade com números invertidos (51) estava ali para contemplá-lo e sentir na mais bela paixão a cumplicidade.
E depois de várias conversas... também disse- lhe que onde estava morando tinha um rio de ondas que corria e saltava numa única direção, era estreito e imprensado pela vegetação. Tinha até os buritizeiros que os enfeitavam na sua borda, mas tinha o seu limite na largura. E nessa comparação mais abraços dei no oceano e percebi que o sol, o céu e o mar dava um espetáculo esplendido diante dos meus olhos que ainda brilhavam.
É chegada a hora de ir embora e, aos poucos, em passos leves fui despedindo-me daquele amor salgado e doce . Cada vez que dava um passo para frente levava comigo algumas gotículas de lágrimas presas ao meu corpo e que os poucos iam secando e entrando em minha alma.


Por Celso Lacerda
21/06/2004