terça-feira, 7 de julho de 2009

Lembro de você...

Reviver no presente é dar vida a momentos
que mesmo com o passar do tempo
mina na fenda de uma rocha que inunda
e escorre na minha memória.
Nas pequenas coisas você renasce e toma formas,
materializa e como folha seca ao vento no inverso
voa, desaparece e se esconde no infinito.
São pontos que mesmo pequeninos
do tamanho de um grão quase desaparecendo
sinalizam que você estar ou passou por ali.
E nas músicas... Lá está você...
Entranhando pelos meus ouvidos
Fazendo-me fixar num transparente horizonte sem linha
e sem rumo, sentindo o seu dançar no meu corpo
Enchendo-me de harmonia e de prazer.
E nas letras dessas músicas uma admiração e uma interrogação
me leva a sonhar e embala-me numa solidão
e através delas como carteiros você manda recados pra mim
que falam de sentimentos.
E até mesmo num sussurrar de um vazio que a sua imagem aparece
embala o meu inconsciente fica bem pertinho de mim
e em segundos evapora e se perde nas minhas ilusões.
Quantas vezes o vento que adentrava pela fresta do telhado
E sem pedir licença trouxe notícias sua
dizendo que eu me cobrisse que eu precisa me agasalhar.
E com um cobertor mesmo com desenhos alegres
eu conseguia amassar as suas estampas e me sentia solitário.
E no perfume seu que ainda está preso em mim me enfeitiça e sem esperar
como o senhor do meu olfato tempera, mergulha e passeia na minha alma
é como se fosse a seiva beijada pelo beija flor que num toque
perfuma a minha auréola dando vida as minhas fantasias.
Até as cores que desenham na minha imaginação você esta lá como um artista famoso criando traços, pontos me lambuzando com cores variadas me tornando simplesmente um quadro.
E nas minhas dormidas, anestesiado pelo cansaço, me entregava na escuridão da noite e cego no meu sono profundo você me visitava, sorriamos, brigávamos, sentíamos e ate saboreava a saliva doce. E, sem propósito, um beliscão sem dedos abria os meus olhos e meio sem querer acordar contemplava o espaço e te procurava no ar.
Celso Lacerda
Barreiras, 24 de junho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Doido


Quero escrever coisas doidas
Pelo menos nessa imensidão
Encontrarei doidos que me aplaudam.
Quero dizer coisas sem pé e sem cabeça,
Mas, pelo menos, que tenha uma linha, um fio, um vulto
Que me diga algo
E gestos impulsionando-me
A fazer literatura.
Chega de dizer o que é certo
Pois nas coisas erradas
É que desnudo o conveniente.
Doido é sair do sério ou ficar sério.
A linguagem dos doidos é comovente
É tão verdadeira que seus sonhos e pesadelos
Levam à viagem
Que chegam aos quatro cantos do mundo.
Quero estar com os óculos de doido
Para que veja nos sabidos
A idiotice a minha frente.
Quando veem um doido dizem:
Corre, lá vem o doido,
Corre que o doido pega
E ai corre como um doido.
Doido é coisa boa
Doido é ingenuidade
Doido é franqueza
Doido é beleza
Ninguém diz tô doido pra morrer
Mas tô doido pra viver
Todo mundo diz tô doido pra viajar
Tô doido pra comprar um carro
Tô doido pra namorar
Tô doido pra fazer sexo
Tô doido pra gozar
Tô doido pra me casar
Tô doido pra me separar
E ficam dois doidos a reclamar
Tô doido pra ganhar na loteria
Tô doido pra ganhar muito dinheiro...
Viu que doido não é coisa ruim?
A depender como você ver o doido
Ser doido é muito bom pra sonhar...
Celso Lacerda
Barreiras – Ba, 31 de maio de 2009










segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mudei

Venho de uma casa. Tudo quase certo.
Tudo em seu lugar.
Reclamava quando as coisas não combinavam.
Tinha um olhar critico quando as coisas destoavam.
Os horários eram como se fosse um ritual
Tinha hora de acordar, trabalhar, dormir, almoçar...
Parece que o relógio não estava na parede, ou no punho
Estava na minha subserviência
As coisas eram assim:
Açúcar no açucareiro
Farinha na farinheira
Salada na saladeira
E o café no quente frio
A roupa no guarda roupa
O sabonete na saboneteira
Era um quebra cabeça
Cada qual no seu cada qual
Tudo certinho
Descobrir que coisas simples dá prazer
E que nem tudo que combina é o ideal.
Não é errado de quem faz
Mas com isso fica tão submisso
Perde tempo...
E deixa de descobrir a essência do que é viver.
E a vida e a felicidade estão aonde?
Estão nas coisas simples.
O meu sapato tinha lugar certo de ficar
Hoje fica em qualquer lugar
Na sala, no quarto ...
A minha calça fica sentada na cadeira
Aguardando-me quando for usar.
Aquela vasilha de margarina
Que jogava no saco do lixo
Hoje enfeita minha prateleira cheia de arroz, de café, de sal...
O pregador de roupa
Que só pregava roupa
Hoje tem mais uma função
Lacra o saco de açúcar, de farinha, de feijão...
O café era servido na xícara, porque no copo não?
O livro ficava sempre na estante
Hoje ele percorre a casa e depois das minhas leituras
Vira até travesseiro
Deixando-o bem pertinho da minha cabeça
De onde ele deveria entrar e fazer morada.
A Busca por coisas de marcas...
E onde está a minha marca?
O meu eu integral?
O sabão em pó tinha nome
Era Omo hoje qualquer uma...
A esponja para lava louça tinha nome
Era Bombril hoje qualquer uma...
E outras.... Qualquer uma...
E hoje com esse meu qualquer uma...
E com esse meu olhar de enxergar
É que sinto que nas coisas simples
É que eu me encontro,
Que eu me cuido,
Vejo a beleza da vida
E gosto mais de mim.

Celso Lacerda
Barreiras – Ba – 19-04-2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Decidida para amar

Você chegou como quem não queria nada...
Querendo tudo.
O seu olhar apunhalou minha alma
E na distância em que separava o nosso desejo
Senti o sabor da sua boca
Que como ondas sonoras
Saltava em direção a minha.
A sua fome estava no seu olhar
Que milimetricamente me engolia
Arrepiado por dentro
Faiscava centelhas de desejos
Suspirei e lentamente como um fiapo ao vento
Colei no seu corpo
Acariciei e adentrei no seu íntimo
E como galhos retorcidos embalamo-nos.
Sussurros e gemidos molhados deslizavam
Era uma orquestra de prazer
E cada vez mais liberava um pouco dos nossos nós
E nesse vai e vem e vem e vai
Desprendiam águas salgadas e doces
Que adoçavam o nosso atrito
E como um furacão os nossos gemidos e sussurros
Foram se acalentando, nós éramos um
E um sorriso tão leve, sela.

Celso Lacerda
Salvador – Ba – 13.04.2009

Quando você pensava que era EU...

Virou meu calendário,
Meu relógio,
Minhas noites, minhas manhãs, meus dias,
Meu inverno, meu verão,
Meu tempo, meu espaço
Meu suspiro, minha visão
Minha muleta, minha direção.
Queria Invadir os meus sonhos,
Minha vida, meus segredos.
Mentia pra si. Enganava-se.
Nutria-se com o conveniente
E embebedava com o próprio veneno
Escondia-se dentro da própria sombra
Mascarava e se perdia
Roubava a minha paz.
Não queria ser a minha cara metade
Queria ser a minha cara inteira
Que ilusão...
E quando quis se encontrar...
Tudo era estranho
O vazio materializou-se
E a solidão adentrou no seu intimo.
De tanto você pensar que era EU
Esqueceu de você e se perdeu...
Perdeu a identidade.
Mas, como nada fica igual ...
Comecei a andar na contramão
Desprender-me.
Não tenho dono.
Meus olhos saltaram na imensidão...
Minha vida ainda me deu a oportunidade de olhar pra trás e ver um mundo pequeno que não me pertencia mais...
Sou único e verdadeiro
Com vontades, sonhos e desejos.

Celso Lacerda
Brasília – DF 25.02.2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

DIFERENÇAS

Você pode até me amar, ficar comigo
Se aproveitar, mas, por favor, te peço
Não queira me acorrentar.
O sol la fora me chama,
A brisa quer me sentir,
O mar quer banhar meu corpo
A noite quer me receber
E a lua quer iluminar o meu ser.
Tenho tempo pra você também.
Observe... não é pouco...
Mas lá fora outros amores e outras dores me esperam,
São coisas alegres, tristes e contentes
Sei que tô na terra e sem isso não existe viver
e ser gente.
Pra que acorrentar?
Se nem tudo que achamos que está preso em nós
Nos pertence.
Observe, tem momentos na vida que matamos coisas dentro de nós
Em prol de alguém...
E continuamos vivendo nem que seja pela metade.
A minha prisão pode ser até a sua solidão
Reveja...
Sonhar, viver e amar não combinam com acorrentar.
Celso Lacerda
21 de janeiro de 2009 - Paraguai