segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Homenagem ao Dia Internacional de Atenção a Gagueira – 22 de outubro.

Professor X Gagueira

Tornei-me professor mesmo com a minha deficiência no falar, se é que isso é realmente deficiência. Sei que busquei me entender com a minha gagueira e com isso minimizei esse meu problema. E o que foi mais importante e de uma grandeza para mim incalculável, foi o momento em que busquei me aceitar.

No momento em que me omitia e negava-me a querer falar com as outras pessoas para não ouvirem e virem o meu gaguejar, achava eu que isso era mais confortável, mas só tinha mesmo valor para alimentar a minha solidão, o meu casulo e, consequentemente, a minha sobrevivência. Era um valor individualizado e localizado, que me conduzia à opressão e à desvalorização como ser humano. Ou seja, essa pequenina atitude, só servia mesmo para construir uma prisão que me anulava, mas que precisava ser descortinada. Como se diz na linguagem popular: “eu precisava mostrar a minha cara”.

Apesar de ter alguns sentimentos depressivos, não me culpava pelo meu estado e nem usava de hostilidade comigo mesmo e com as outras pessoas. A minha experiência de vida, com o passar do tempo, me mostrou que nunca somos o que gostaríamos de ser, por mais que sejamos lindos, elegantes, atraentes, inteligentes e famosos, ainda falta alguma coisa para a plenitude da nossa satisfação. Aprendi também que não precisava absorver e aceitar características externas estereotipadas que me rotulavam e que queriam me podar socialmente.

Não poderia morar num esconderijo e nem tão pouco fazer dele o meu mundo, já que a minha gagueira não era culpada e nem cometeu nenhum crime, apenas não seguia um padrão estabelecido por algumas pessoas. Busquei me descobrir, me encontrar através dos meus erros e acertos, o que realmente eu podia e o que não podia, além da minha capacidade e do meu discernimento.

Observe que quando me refiro à gagueira em todo desenvolvimento deste meu trabalho literário, eu a trato de maneira carinhosa, sempre digo “minha gagueira”, não digo em momento algum que ela é de outra pessoa. Nós estamos juntos há tanto tempo, e ela convive comigo a todo instante, que é como se fosse um órgão meu. Ela sou eu. E apesar de sermos dois em um, ela é muito mais original que eu, se é que posso afirmar isso. Só que eu procuro me resguardar nas minhas colocações, penso várias vezes no que vou falar e estou sempre preocupado com o entendimento do outro e se serei compreendido. Enquanto que a gagueira não quer nem saber como vai se apresentar, e em qualquer lugar, e em qualquer momento surge com a sua ingenuidade para qualquer pessoa.

A minha gagueira precisa que eu fale para que eu lhe dê vida. E nesse meu falar estou sempre buscando alimentá-la. O interessante nisso tudo é que, quando eu canto ela fica contemplando a minha melodia, quando eu durmo, ela adormece comigo e sei que quando morrer morreremos juntos.

E nesse meu repensar e nessa minha vida na área educacional percebi o quanto eu tinha ainda a aprender, desenvolver e contribuir. Entendi que, apesar de ser diferente, precisava fazer sempre o melhor possível, me aceitar e superar as minhas dificuldades de maneira que pudesse atender aos outros e a minha felicidade.

Texto extraído do meu Livro: Educação, obrigado pelo meu falar. Já na editora Livre Expressão, com previsão para lançamento em novembro de 2011.

Profº MSc. Celso Almeida de Lacerda

4 comentários:

Licia disse...

Parabéns Celso. Você escrevi coisas belas. Continue assim...
Beijos
Licia

Almir Lessa disse...

Olá amigo. Gostei do seu texto. A superação é algo grandioso em nossas vidas. Sucesso!

Prof. Almir Lessa - Amapa

Joaquim disse...

Parabéns parceiro.
O que você retrata aqui é grandioso. As pessoas nunca devem desistir dos seus sonhos mesmo que tenha sofrimentos no seu caminhar.
Abraço
Profº Joaquim
Maceio - Alagoas

Anônimo disse...

Ola, linda reflexão de uma pessoa muito importante que passou em sua vida.
Você continua a mesma pessoa de sempre, com qualidades unica.

Abraço
Junior