sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Você não sabe nada!
A frase “Você não sabe nada” vem
sempre com uma entonação de voz ríspida acompanhada do desmerecimento
direcionada para o outro (a). É de doer, é de taxar a pessoa como sendo um ser
oco, vazio. Ela funciona como uma navalha que corta na alma e que de imediato a
pessoa recebedora da mensagem associe a sua inteligência, ao seu conhecimento e
ao poder da sua mente. O que é “nada”? Veio-me à vontade de refletir sobre a
palavra “nada”, de saber como se apresenta no contexto em que está sendo
empregada. O que se tem noticia é de que “nada” significa a não existência,
efeito do aniquilamento, aquilo que não existe, coisa nula, inutilidade. E
observe que essa frase geralmente é verbalizada no intuito de denegrir a imagem
do outro e ferir o seu próprio “eu”, deixando o recebedor dessa mensagem
fragilizado. E, enquanto que, é claro, o interlocutor se achando o sabedor de
tudo, o dono da verdade.
Essa frase me traz lembranças da
minha sala de aula. No livro “ Educação obrigado pelo meu falar”, eu digo: “
Não conto as vezes em que a professora direcionava uma pergunta para mim sobre
o assunto que estava sendo dado na sala de aula, e eu até sabia responder a
pergunta e ficava me espremendo para dar-lhe a resposta. Resultado: não
conseguia me expressar de maneira clara e sim de forma repartida, trêmula, e de
imediato ela dizia: “ Você não sabe nada”, me descartava e passava a pergunta
para o meu colega. Com essa atitude dela, com seu desprezo para comigo eu me
sentia anulado perante os meus colegas, a escola e, o pior, a mim mesmo, que a cada
dia me machucava quando pensava em ir à escola e ter de encontrar-me de novo
com a professora”.
Fazendo referência à frase que a professora verbalizou
dizendo, “ você não sabe nada” me faz lembrar o pensamento de Paulo Freire
quando ele diz: “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”. E
acredito que o meu saber mais o saber de cada um de meus colegas, e mais o
saber da professora dentro daquele nosso espaço da sala de aula, culminava
realmente numa aprendizagem e, consequentemente, no conhecimento estabelecido
de maneira que contagiasse todos no processo ensino-aprendizagem.
Em outro momento do livro em se tratando da aula de
matemática em que acontecia a tal da sabatina, responder a tabuada, com a presença
da palmatoria, quando chegava a minha vez de responder a tabuada, eu já ficava tenso
porque a resposta tinha que ser dada de imediato e a professora exigia tudo “na
ponta da língua”. Colocava a minha mão para trás e, mais que depressa, começava
a contar nos dedos. Se demorasse um pouco para responder – e às vezes demorava
em decorrência da minha gagueira – a palmatória me presenteava com um bolo. Que
bolo! E a frase “você não sabe nada” renascia. ”. E ela nem imaginava que com
essa sua fala, mais me aniquilava, anulava e me fazia sentir ainda mais sem
brilho. Isso realmente era uma aprendizagem, pelo medo, e não pela felicidade. Talvez eu não soubesse o tudo que a professora
queria e pensava que sabia. Diante desse episódio, eu respondia com o lacrimejar
dos meus olhos. E para mim esse tudo, que ela queria que eu soubesse, era
simplesmente responder aquela tabuada. Com todo esse fato, alguns professores,
muitas vezes, não paravam para avaliar o seu ensino, não absorvendo a relação
do aluno como ser integral, que tem conhecimento do mundo em que vive por
inteiro, não somente da parte que lhe é imposta saber. E ainda, alguns
professores direcionavam o seu foco
para uma aprendizagem que culpava o aluno pelo seu insucesso.
No dia em que você
achar que sabe tudo não precisa você estar mais por aqui. A eternidade
lhe espera para novos saberes.
Prof. Msc. Celso Lacerda
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